Julho 2017 foto de obra de Armando Prado do final da década de 1970

Um conjunto de fotos coloridas tomadas pelo fotógrafo Armando Prado fornece uma visão do centro de São Paulo nos anos finais da década de 1970. O trabalho integra a mostra Antilogias, em cartaz na Pinacoteca desde 20 de maio até 07 de agosto de 2017. Dentre essas, há uma do Cine Cairo, na época vivinho da silva, no seu endereço na rua Formosa 401, entre uma liquidação dos calçados ZAPATA à esquerda e o edifício à direita que, então parecia bem, e que em seus últimos anos, ficou famoso pelo grafite “o Estrangeiro” dos Gêmeos.

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Imagem: http://www.osgemeos.com.br/pt/projetos/gigante-vale-do-anhangabau-sao-paulo-brasil/

Esse grafite gigante fez parte da paisagem do Anhangabaú de 2009, quando foi executado como parte das comemorações do ano da França no Brasil, até fevereiro de 2012, quando foi pintado de cinza e causou grande comoção. Na verdade, quando a obra foi feita, já era sabido que o edifício seria demolido – www.osgemeos.com.br/pt/o-estrangeiro/.

grande Martinelli_Avante_72010 foto: Eduardo Zanelato

Esse edifício foi desapropriado junto a muitos outros imóveis da quadra 27, numa grande ação da prefeitura, de forma a abrir espaço para a Praça das Artes, complexo educativo cultural (sede das Orquestras Sinfônica Municipal e Experimental de Repertório, dos Corais Lírico e Paulistano, do Balé da Cidade e do Quarteto de Cordas. Abriga também as Escolas Municipais de Música e de Dança, o Museu do Teatro, o Centro de Documentação Artística). Na foto acima, grafite e edifício – cujo último uso foi a sede do Sindicato dos Comerciários – ainda estavam em pé em meio ao processo de demolição.

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Recanto Monteiro Lobato, final da década de 1970 Foto: autor desconhecido

A gênese da abertura da quadra 27, efetivada pelo projeto da Praça das Artes (Brasil Arquitetura 2006-2012), começou com a criação do “Recanto Monteiro Lobato”, uma pracinha em lote de 3000 m2 na rua Conselheiro Crispiniano, isso ocorreu na gestão Olavo Setúbal (1975-1979). Esse espaço público foi sendo deteriorado e, em administrações seguintes, acabou sendo usado como depósito intermediário na coleta do lixo urbano. Na verdade, uma praça estreita e com apenas uma das laterais ligada à calçada talvez não fosse mesmo muito promissora. Na foto acima, a flecha vermelha indica, em primeiro plano, o edifício que foi suporte do grafite gigante.

Captura de tela 2017-07-20 16.23.01 (3) - Copia

Ortofoto 2004 MDC

Com a decisão de intervir na quadra 27, os edifícios que barravam a ligação entre o terreno público e o vale do Anhangabaú ficaram com a cabeça a prêmio. Por fim, a solução da Praça das Artes assumiu a forma de um pente, com dentes avançando até a avenida São João. Enquanto a ligação com o Vale do Anhangabaú até hoje não se efetivou, em que pese os metros quadrados de construção e de grafite que infelizmente tombaram no caminho.

 Maio 2015

Por decisão do projeto, a fachada do Cine Cairo foi mantida. Mantida e pintada de branco imaculado. A fachada há muito perdeu a palidez mortuária, mas não por ter adquirido vida. Segue em suspenso, como a obra inacabada da Praça das Artes.

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