Muito se fala do Minhocão, com a disputa em curso entre defensores do seu desmonte e aqueles que defendem a manutenção da estrutura e criação do “parque” Minhocão, solução que não dá resposta para a baixa qualidade urbana da área sob o elevado.  Muito pouco se fala da continuação do Minhocão em direção ao Leste, especialmente do trecho muito danoso entre a praça Roosevelt e a Praça Pérola Byington, que seccionou em dois o bairro do Bexiga.

A ligação expressa leste-oeste no Bexiga, 1971 – Foto publicada na Revista Veja – Republicada no site São Paulo Antiga – http://www.saopauloantiga.com.br/sao-paulo-em-1971/

O documentário de Regina Jehá, Bexiga Ano Zero, de 1971, trata do processo de desapropriação, abandono, ocupação e demolição das velhas casas do Bexiga para dar espaço à via expressa Leste-Oeste (disponibilizado pela EMPLASA https://www.youtube.com/watch?v=Ee5xRCsbsSE). A última fala do documentário é melancólica: “Bexiga, um punhado de portas e janelões empilhados entre esboços de grandes avenidas e viadutos. O Bexiga não se transformou, simplesmente desapareceu.”  E aí surgem, na cena final, sete matronas italianas de preto descendo a alça de acesso à via expressa. Parecem cumprir o dever de acompanhar mais um féretro, dessa vez, do seu próprio bairro.

Trecho final do documentário Bexiga Ano Zero

Trecho do Mapeamento 1954 – Vasp Cruzeiro

O Bexiga sobreviveu, mas ficou dividido. No mapa de 1954, estão destacadas em verde as praças Roosevelt (ao norte) e Pérola Byington (sudeste) entre ambas, o rasgo amarelo é o trecho arrasado para a continuação do Minhocão. Em laranja a ampliação de vias para conexão do elevado com a avenida Paulista, com mais um tanto de casas demolidas.

Outubro/2017 Foto: FMM – A via expressa diante da Padaria 14 de Julho (Rua Quatorze de Julho, 92)

No Bexiga, a via expressa funciona como um muro que impede o ir e vir, nesse muro há passagens, em geral, hostis ao pedestre por lixo e mau cheiro. As passagens são pelas ruas Santo Antônio, Major Diogo e Abolição/Humaitá.

Maio/2017 Foto: FMM – Passagem da Rua Santo Antônio sob o Viaduto Júlio de Mesquita Filho

Ortofoto 2004 – MDC

O Bexiga foi premiado, pois além da Ligação Leste-Oeste, seu tecido foi rasgado por uma avenida destinada a unir de modo eficiente (em termos rodoviários) a via expressa Leste-Oeste (em vermelho) à praça Oswaldo Cruz no início da avenida Paulista. Dessa forma, os leitos das ruas João Passalaqua, Rui Barbosa e Treze de Maio foram alargados. Com menor potencial de destruição, o alargamento dessas vias (destacadas em amarelo na foto aérea), acabou contaminado pelo espírito maligno da construção de viadutos. Assim, foi traçada uma diagonal para unir a Rui Barbosa à Treze de Maio (arrasando mais um quarteirão urbano) essa diagonal já ajusta o nível para o arranque de um viaduto de 700 m (Viaduto Armando Puglisi – destacado em laranja) construído apenas para ultrapassar a avenida Brigadeiro Luiz Antônio.

Julho 2017 Foto FMM – o arranque do viaduto Armando Puglisi diante da Cantina Speranza, na Treze de Maio.

Julho, 2017 Foto FMM – O viaduto Armando Puglisi – construído para evitar o cruzamento entre o tráfego de passagem na Treze de Maio e o tráfego da Brigadeiro Luís Antônio.

No Bexiga não existe movimento pelo desmonte do complexo viário que dá continuidade ao Minhocão mas, ao menos, um movimento pelo desmonte do viaduto Armando Puglisi podia emplacar. E, dessa forma, o nome do Armandinho do Bixiga, figura tão ligada às festas de rua do bairro, podia ser usado para nomear algo menos nefasto ao uso da rua do que um viaduto mal traçado.

Registro do Bolo do Bexiga em 1992, em http://www.saopauloantiga.com.br/bolo-do-bixiga/

Falecido em 1994, Armando Puglisi idealizou o Bolo do Bexiga nos aniversários de São Paulo, além do Museu Memória do Bixiga (MUMBI), foi diretor e presidente da escola de samba Vai-Vai e saía no Bloco dos Esfarrapadoscriou também o Jornal do Bixiga, que já não existe mais.

About MAJB

No Comments

Be the first to start a conversation

Leave a Reply

  • (will not be published)