O espaço vazio junto à Igreja da Consolação em São Paulo foi batizado de Praça Roosevelt em 1945, conforme notícia na página 2 do Estado de São Paulo de 25/10/1945:

Notícia Estadão

Foto aérea 1958 http://www.geoportal.com.br/memoriapaulista/

No século 19, o terreno da praça Roosevelt fazia parte de uma chácara que Dona Veridiana e Martinho Prado possuíam ali e cuja sede era vizinha à Igreja da Consolação:

Trecho da Planta da Cidade de São Paulo levantada pela Cia Cantareira de Esgotos 1881 – Eng. Henry B. Joyner – a flecha cinza aponta o antigo casarão de Dona Veridiana e Martinho Prado ao lado da antiga igreja do início do século 19.

Trecho do mapa topográfico do Município de São Paulo feito pela empresa Sara Brasil em 1930, eng. Arthur Saboya – a flecha aponta o casarão que pertenceu a Dona Veridiana e Martinho Prado ao lado da atual igreja da Consolação (projeto 1909/10 arquiteto Maximiliano Hehl).

No mapa Sara Brasil de 1930, que mostra São Paulo antes das obras de Prestes Maia (interventor pela ditadura Vargas entre 1937-1945) o casarão ainda resistia. Quando Dona Veridiana se mudou para o palacete em Higienópolis (1885), cedeu a chácara para as irmãs da Ordem de São José. O casarão foi demolido nos anos de 1940, parte das grandes desapropriações de Prestes Maia.

O antigo casarão que pertenceu a Dona Veridiana e Martinho Prado na Consolação. Atrás, a Igreja da Consolação. Foto: Caio Prado Jr., 1944.

Por mais de duas décadas a igreja da Consolação ficou cercada por uma área vazia que servia de estacionamento e espaço para feira livre.

Segunda metade da década de 1960: a Praça Roosevelt tomada por carros. Foto: autor desconhecido

As atrizes Norma Bengell e Odete Lara na praça Roosevelt, numa das cenas finais do filme Noite Vazia (1964), direção Walter Hugo Khouri.

A antiga praça Roosevelt serviu de cenário no filme Noite Vazia, as personagens Mara e Regina, vividas por Norma Bengell e Odete Lara, são deixadas num local ermo quando o dia amanhece. A câmara focaliza o carro se aproximando com a grande igreja atrás, as moças descem e depois a câmara se afasta explorando a desolação do espaço.

A segunda versão da praça Roosevelt foi criada junto com a ligação expressa Leste-Oeste, a via atravessou a antiga praça numa cota mais baixa, em trincheira. Foi concebida então uma superlativa praça-edifício que reconstituiu o antigo terreno da Roosevelt sobre a via expressa.

Estudo para a Praça Roosevelt sobre a via expressa Leste-Oeste, nesse estudo o gigantismo da praça se estendia à quadra vizinha, acabando com a sede, hoje centenária, do Instituto Clemente Ferreira.

Praça Roosevelt nos anos de 1970. Foto: autor desconhecido.

A nova praça-edifício foi inaugurada em 25 de janeiro de 1970 e assim persistiu por quase 40 anos, até o início das obras de reforma do espaço em 2009.

Praça Roosevelt, anos de 1970. Foto: autor desconhecido.

Com excesso de níveis, ligados por rampas ou escadas, por vezes meio escondidos, a apreensão do espaço era difícil para o usuário. Muitos dos elementos empregados bloqueavam a visão – diferenças de cota de nível, muretas protetoras inclinadas, floreiras altas – e contribuíram para a compartimentação do espaço. Um programa muito extenso, com demanda de espaços cobertos: supermercado, correio, floricultura. O abuso de formas geométricas – pentágono, elipse, cilindros, diversidade de ângulos e curvas – também contribuiu para a pouca clareza do desenho. O fato é que os espaços de comércio acabaram fracassando e os sinais de declínio já estavam fortes em meados da década de 1980. Em 1995 a EMURB, após tentar melhorias paliativas, entendeu que a única solução para a praça seria a demolição do excesso de massa construída. Em: http://www.revistas.usp.br/revistalabverde/article/view/61920/64747

Croqui do projeto executivo que foi a base para o desenvolvimento da nova praça Roosevelt, 2007. Início do projeto: 1995; conclusão da obra: 2012. Arquitetura: Rubens Reis – SP Urbanismo.

Foto: FMM, maio/2015

Na sua terceira versão, a praça Roosevelt voltou a ser conformada pelos edifícios do entorno. As obras de reforma da praça terminaram em 2012, com algumas alterações em relação ao projeto:  a área verde com playground ao lado da Igreja da Consolação não foi integrada à praça conforme o previsto, foi construída uma nova edificação para a sede da Polícia Militar junto aos quiosques, solução que interfere na praça – no projeto, a PM ficaria abaixo das escadarias junto à rua Augusta e junto à guarda metropolitana.

Foto: FMM, maio/2015

Foto: FMM, maio/2015

Foto: FMM, maio/2015

Mas, apesar dos percalços e de eventuais conflitos no uso do espaço, por exemplo com os skatistas, após a intervenção municipal, a cidade passou a contar com um espaço público mais qualificado do que aquele que havia antes, o que, no caso da área central de São Paulo, especialmente desde meados do século 20, não é pouco.

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