O livro do professor Benedito Lima de Toledo, São Paulo: três cidades em um século, publicado em 1981, diz respeito à pequena área de São Paulo que contava, então, um século ou mais de idade. O livro defende a tese de que em apenas um século, as ruas do centro de São Paulo tiveram suas construções coloniais em taipa substituídas pela arquitetura eclética em tijolo e, na sequência,  pelas construções modernas em concreto. Lá se vão 38 anos desde a publicação do livro, e o tecido edificado no centro de São Paulo, desde então, mudou relativamente muito pouco. O Sesc 24 de Maio transformou significativamente a esquina que ocupa. Foi construído no lugar de dois edifícios modernos, aproveitando em parte, a estrutura de concreto de um deles.

A cidade de São Paulo em 1881, em laranja, o local que veio a ser ocupado pelo Sesc 24 de Maio.

Para a instalação de sua unidade no centro, o Sesc adquiriu dois imóveis: um edifício da antiga loja de departamentos Mesbla, construído em duas etapas na década de 1940 e, por sugestão do arquiteto Paulo Mendes da Rocha que assina o projeto com o escritório MMBB, um edifício contíguo, em terreno de 142 m2 com 7 m de testada para a Dom José de Barros. Nesse terreno foi construído um edifício novo, para abrigar equipamentos técnicos e serviços.

Do antigo edifício da Mesbla só foi mantida a estrutura de concreto armado de sua parte alta em “U”. No miolo do “U” havia uma estrutura baixa, que foi demolida. Ali, encaixado no “U”, foi construído um novo edifício que culmina na piscina da cobertura.

Vista aérea do centro de São Paulo. Foto: Werner Haberkorn. Destacado em amarelo, o antigo edifício da Mesbla.

Estrutura de concreto preservada do antigo edifício da Mesbla. Vista da perna do “U” alinhada com a rua Dom José de Barros. Foto: website MMBB Arquitetos

Estrutura de concreto demolida na parte central do edifício da Mesbla. Foto: website MMBB Arquitetos

Edifício da Mesbla antes da ampliação que prolongou o trecho de fachada voltado para a rua 24 de Maio. Foto: Leon Liberman

O edifício da Mesbla, projeto de Auguste Rendu, foi publicado na revista Acrópole, n. 33 (janeiro de 1941). Tratava-se de edifício misto, com loja e escritórios da Mesbla e apartamentos para aluguel. Posteriormente, o edifício foi ampliado, assumindo a configuração em “U”.

Desenho que mostra a ampliação da fachada voltada para a rua 24 de Maio: a partir da linha vermelha. Com essa ampliação, a simetria do térreo envidraçado foi rompida.

No pequeno terreno de 142 m2, onde hoje está o bloco de serviços e equipamentos do Sesc, havia um edifício construído na década de 1960 para abrigar o restaurante Fasano. O projeto, feito pelo arquiteto Telesforo Cristofani, recebeu o Prêmio Bienal de São Paulo na premiação de arquitetura da 8ª Bienal de Arte de São Paulo, em 1965.

Corte do restaurante Fasano, publicação: Acrópole n.321 (setembro, 1965).

Fachada do restaurante Fasano, foto: José Moscardi. Publicada na Acrópole n.321 (setembro, 1965).

Dada a exiguidade do lote, o restaurante foi resolvido em altura. A fachada ostentava a caixa do elevador em concreto aparente com acabamento irregular e placas de concreto pré-moldado formando um quebra-sol.

Poucos anos depois, o imóvel foi adaptado para sediar uma agência bancária, com projeto do arquiteto Majer Botkowski. Além das necessárias modificações internas para acomodar o novo programa, foi feito o revestimento da caixa de escada com placas de mármore e ampliação da área de vidro no fechamento do térreo. As duras críticas que recebeu por ter feito essas alterações levou o autor a publicar uma carta na revista Acrópole n. 344 (outubro, 1967): “A propósito de uma adaptação”.

Fotos publicadas na Acrópole n. 344 mostrando o edifício antes e depois de ter a caixa de escada revestida.

Uma foto de 1957 (Folhapress) mostra uma vista da rua Dom José de Barros anterior à construção do restaurante Fasano. Nela, o pequeno terreno espremido entre o antigo edifício da Mesbla e o edifício Broggi (1944, rua Dom José de Barros, n. 168), aparece ocupado por um imóvel comercial térreo.

Data: 1957. Foto: Folhapress. A flecha indica o imóvel anterior ao edifício do restaurante Fasano

Vista da Rua Dom José de Barros. Imagem do Google (captura em agosto de 2017)

As duas vistas da rua Dom José de Barros, com um lapso de 60 anos, mostram a razoável permanência do conjunto edificado na via, onde o único edifício contemporâneo é o Sesc 24 de Maio. Enorme alteração foi a transformação da via em calçadão na década de 1970 (Prefeito Olavo Setúbal 1975-1979), com um desenho de piso personalístico, que hoje nos parece mais antigo do que a pavimentação neutra que havia na década de 1950.

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