No filme A Hora da Estrela (1985), Suzana Amaral ambienta a ação do livro homônimo de Clarice Lispector na cidade de São Paulo. São Paulo é a cidade grande, para onde a migrante acorre tentando a sorte. As cenas com os personagens principais, vividos pelos atores Marcélia Cartaxo e José Dumont, ocorrem basicamente no espaço público e, em que pese a extensão da metrópole na década de 1980, os personagens não se afastam do centro histórico da cidade, na maior parte das cenas mantendo-se num raio de aproximadamente 2 km desde o marco zero (indicado pela flecha vermelha no mapa abaixo).

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Recorte do Google Maps

Começando do Norte e caminhando em sentido horário: o Jardim da Luz, em laranja a Vila onde fica a pensão da protagonista, no círculo vermelho a passagem metálica sobre a linha férrea junto à rua do Bucolismo e, por fim, a praça sob a Estação Brás do Metrô.

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Para sentir melhor o centro histórico, os mesmos espaços  no Mapa de São Paulo de 1890, quando a população da cidade era de cerca de 65.000 pessoas

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Filme A Hora da Estrela – Jardim da Luz, ao fundo a estátua de Diana

O relacionamento entre Macabéa e Olímpico começa no Jardim da Luz, o jardim público mais antigo de São Paulo – inaugurado em 1825.

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Filme a Hora da Estrela – Rua Dr. Cláudio de Souza – Vila Economizadora

Macabéa mora numa pensão na rua Dr. Cláudio de Souza, na hoje centenária Vila Economizadora (ca. 1913) http://www.arquiamigos.org.br/info/info19/i-logra.htm. O edifício que aparece na esquina faz frente para a rua da Cantareira.

vila economizadoraPlanta da Vila Economizadora. A faixa que dava frente para a antiga avenida Tamanduateí foi desapropriada para alargamento da via, hoje avenida do Estado.

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Filme a Hora da Estrela – A passarela sobre a linha férrea que une a rua do Bucolismo à rua Rodrigues dos Santos. Ao fundo uma antiga instalação fabril.

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Janeiro 2016 – A passarela metálica e o antigo galpão industrial seguem no mesmo lugar. Bem como a luminária que salta da alvenaria para iluminar a travessia, como se tivesse lâmpada. 

No filme, toda a antiguidade fica para trás quando o casal chega na área aberta junto à estação Brás do Metrô. Ali as luminárias cilíndricas; os pontos de ônibus que parecem feitos em fibra de vidro com apoio central e forma paraboloide; até o cimentado do piso interrompido por árvores esparsas ainda pequenas, tudo é novo.

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Filme a Hora da Estrela – pontos de ônibus na rua Prudente de Moraes, junto à estação Brás do metrô

Filme A Hora da Estrela – Cimentado junto à Estação Brás do Metrô

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Mapeamento 1954 Vasp Cruzeiro

Essa área nova foi criada com a desapropriação e demolição de 5 quadras urbanas no Brás, para construção da Estação Brás do metrô. Uma área bastante central no bairro, posicionada entre o Largo da Concórdia, ao norte, e o atual Museu da Imigração, ao sul (destacados em bege no mapa). A área também é vizinha às estações de trem do Brás (destacadas em cinza), para permitir a integração dos sistemas.

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Filme A Hora da Estrela – ponto em que a linha Vermelha (Leste-Oeste) se divide, um pouco antes da estação Brás do metrô

O trecho da linha vermelha do metrô que vai da Sé ao Brás foi inaugurado em 1979.  Quando o filme foi rodado, em 1985, nem toda a área desapropriada junto à estação Brás do metrô estava urbanizada. O filme mostra os viadutos do metrô pairando sobre areia e mato. A mancha da cidade no fundo dá a impressão de que os personagens estão numa região periférica.

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Ortofoto 2004 –MDC Vista aérea da estação Brás do metrô, no círculo em vermelho, o local dos pontos de ônibus na rua Prudente de Moraes. A grande área no entorno da estação seguia subaproveitada.

Parque Benemérito José Brás (inauguração janeiro/2011), filmado e disponível no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=TmULJKPYk4g

Embora vazia desde a década de 1970, a área só foi efetivamente ocupada como parque – com quadras, equipamentos de ginástica e algum mobiliário de estar – em 2011. Se a filmagem de A Hora da Estrela soube explorar  aquela área como uma região “nova” – distante da identidade do Brás, associada ainda hoje à ocupação densa das vilas, galpões de alvenaria e trilhos de trem – é fato que o parque ainda carece de identidade. Um parque novo, no centro histórico de São Paulo, reconhecível pelos viadutos do metrô.

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One Response to “São Paulo no filme A Hora da Estrela”

  1. Maria Isabel Bastos

    Gostei muito de acompanhar Macabéa e Olímpico neste caminhar…Interessante observar o mesmo local, visto do mesmo ângulo, sob. os viadutos da linha vermelha em 1985 e 2011!!!

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